Por que a contratação de Neymar se tornou caso de polícia na França?
Ao examinar as mensagens trocadas entre Jean-Martial Ribes e Hughes Renson, os juízes do caso constataram que o PSG, em julho de 2017, temia pagar uma alta quantidade de impostos e contribuições previdenciárias sobre o enorme valor a ser pago ao Barcelona pela multa rescisória de Neymar. Os agentes fiscais do clube estimaram que o risco de tributação era alto e poderia variar entre 67 e 224 milhões de euros em impostos.
Na noite do dia 24 de julho, Jean-Martial Ribes pediu ao ex-deputado macronista Hughes Renson, na época, vice-presidente da Assembleia Nacional, que o ajudasse a amenizar a tributação do contrato do astro brasileiro. Renson interviu imediatamente junto ao Ministro das Contas Públicas, Gérald Darmanin, que utilizou de seu poder para cortar parte da tributação e facilitar o pagamento da multa rescisória por parte do PSG.
“Darmanin tem o caso em mãos e está trabalhando nisso”, disse Renson à Jean-Martial, que retribuindo o favor recebido, enviou dois ingressos ao ex-deputado para acompanhar aos jogos do PSG, e de quebra, lhe presenteou com uma foto autografada por Neymar ao lado de seu filho. Documentos divulgados pelo Football Leaks partilhados com o Médiapart revelaram que na mesma noite do dia 24 de julho, Jean-Martial foi recebido Jérôme Fournel, chefe de gabinete de Gérald Darmanin.
Após a reunião, o ministro escreveu uma nota ao PSG na qual aconselhou o clube a contornar a jurisprudência de sua própria administração. Três dias mais tarde, a Direção-Geral de Contas Públicas da França e a Urssaf (órgão responsável pelo recolhimento e envio de recursos de contribuições sociais) emitiram comunicados indicando que o clube parisiense não teria impostos, nem contribuições para a segurança social a pagar sobre a transferência milionária.
Uma mensagem de do ex-deputado Renson indica sugere que o ministro de Contas Públicas estaria à frente do trâmite: “Estava com o Gérald. Nós conversamos. Ele considera isso bom”, disse o parlamentar.
Envolvidos no caso se esquivam de respostas
A Médiapart foi em busca de ouvir o outro lado da história, mas até o momento da publicação desta matéria nenhum dos envolvidos neste caso quis se manifestar. Gerald Darmanin, hoje Ministro do Interior da França, cargo que ocupa desde 2020, também manteve-se em silêncio. No último dia 15 de janeiro o parlamentar esteve na futura vila olímpica dos jogos de Paris, em Saint-Denis.
Perguntado pela imprensa presente se o executivo teve ou não participação direta na liquidação fiscal do contrato de Neymar, Darmanin foi assertivo ao dizer que não responderia ninguém a respeito deste caso.